Em mais uma iniciativa voltada ao enfrentamento institucional do racismo, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) promoveu, na última quinta-feira (13), a palestra “Racismo: como entender” para servidores e colaboradores. Realizado no auditório da autarquia, o evento faz parte de um esforço mais amplo do Cofen, que tem intensificado a construção de uma Política Nacional de Enfrentamento ao Racismo e à Discriminação na Enfermagem, por meio de um Grupo de Trabalho que discute a criação de comissões regionais, campanhas educativas, mecanismos de acolhimento para vítimas e procedimentos para apuração de denúncias.
A atividade foi conduzida por Vera Beatriz Soares, técnica de Enfermagem, cientista social, psicoterapeuta, ativista e palestrante. Reconhecida por sua trajetória na defesa dos direitos humanos e no combate às desigualdades raciais, também possui atuação destacada no Sistema Cofen/Conselhos Regionais de Enfermagem: compõe o atual Plenário do Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul (Coren-RS), foi conselheira na gestão 2021-2023, trabalhou no Grupo Hospitalar Conceição e integra a Comissão Nacional de Enfermagem em Saúde Intercultural do Cofen.
Reflexão, conhecimento e pertencimento
Ao abordar o tema do racismo, Beatriz destacou a importância de reconhecer as múltiplas expressões da discriminação — tanto na sociedade quanto dentro das instituições. Em um diálogo sensível e firme, ela explicou a diferença entre injúria racial e racismo, ressaltando que ambas representam violações graves.
“Injúria racial é quando eu machuco a dignidade de uma pessoa. Racismo é quando agrido um coletivo. Chamar alguém de ‘macaco’, por exemplo, não é piada: é retirar sua humanidade. Isso é crime”, afirmou.
A palestrante também citou a persistência da sub-representação de pessoas negras em cargos de liderança, apontando que a violência racial, muitas vezes, se disfarça de “brincadeira” ou “piada”, mas produz marcas profundas.
Outro ponto destacado foi o chamado gaslighting racial — dinâmica psicológica em que a vítima tem sua realidade distorcida ou minimizada. Beatriz relembrou a origem do termo e o relacionou ao cotidiano de muitas pessoas negras nas relações de trabalho e sociais.
Com fala marcada pela ancestralidade e pelo convite à autorreflexão, Beatriz reforçou a importância de reconhecer a própria origem como fonte de força e identidade. “Nossas raízes representam nossa força. Afastados delas, somos como galhos ao vento; próximos à nossa identidade, tornamo-nos fortes e resilientes.” Ela encorajou que cada pessoa buscasse compreender sua própria história — seja ela africana, indígena ou outra — e que honrar essas raízes é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa.
Compromisso institucional
Ao promover a atividade, o Cofen reafirma seu compromisso com a diversidade, a equidade e o respeito, valores imprescindíveis para a consolidação de um ambiente de trabalho ético e acolhedor. Iniciativas como esta reforçam a necessidade de espaços de diálogo, escuta e aprendizado contínuo.
A participação ativa de servidores e colaboradores evidenciou o interesse coletivo em compreender melhor as dinâmicas do racismo e se engajar em práticas mais inclusivas no cotidiano institucional.
Ao final, a palestrante deixou uma reflexão que ecoou entre os presentes: “Somos parte de um povo, e cada indivíduo é essencial e significativo. Construir um mundo que inclua todas as pessoas é responsabilidade de cada um de nós.”
A palestra encerrou-se sob aplausos e com o compromisso renovado de que a luta contra o racismo é cotidiana — e precisa ser compartilhada.
Fonte: Ascom/Cofen – Tânia Moraes
