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Escolas da rede pública trabalham a luta contra o racismo o ano inteiro

Não é apenas no mês de novembro, quando é celebrado o Dia da Consciência Negra, que o tema educação antirracista se faz presente na vivência dos estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal. Na rede pública de educação, o assunto é pauta de trabalhos contínuos durante o ano todo. A importância da representatividade, da diversidade e da luta contra a discriminação racial está no dia a dia pedagógico das escolas.

“Não estamos fazendo uma ação isolada sobre o Dia da Consciência Negra. São várias atividades integradas que debatem a educação antirracista com textos, pinturas em tela, contação de histórias, palestras, incentivo à prática da capoeira no Centro de Iniciação Desportiva (CID), entre outras”Murilo Marconi, coordenador Regional de Ensino de Taguatinga

A Coordenação Regional de Ensino (CRE) de Taguatinga tem exemplos de sucesso da abordagem do tema, como o projeto Taguatinga Plural, que tem objetivo de subsidiar ações pedagógicas e educativas nas unidades escolares para o reconhecimento do papel fundamental da educação na superação do racismo. Na região, 11 escolas já aderiram ao projeto para trabalhar temas da educação antirracista em diversas ações ao longo do ano.

As atividades do Taguatinga Plural são construídas coletivamente em reuniões entre os professores das escolas que aderiram à iniciativa. Há eixos norteadores para o debate, mas cada unidade pode sugerir ações e projetos para serem desenvolvidos localmente. Foi destinada, por meio de uma emenda parlamentar do Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (Pdaf), uma verba para as escolas investirem em materiais pedagógicos para o desenvolvimento das ações. Cada unidade participante do projeto recebeu R$ 4 mil por ano.

“Não estamos fazendo uma ação isolada sobre o Dia da Consciência Negra. São várias atividades integradas que debatem a educação antirracista com textos, pinturas em tela, contação de histórias, palestras, incentivo à prática da capoeira no Centro de Iniciação Desportiva (CID), entre outras”, destaca Murilo Marconi, coordenador da CRE de Taguatinga.

Alunos debatem a educação antirracista por meio da contação de histórias | Fotos: Mary Leal/Ascom SEEDF

A ideia do projeto é aprofundar o que prevê a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que garante o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena nas instituições de ensino.

O Centro de Educação Infantil (CEI) 1 foi uma das unidades que aderiu ao Taguatinga Plural. A escola aproveitou as sugestões da coordenação regional de ensino e integrou as atividades que a escola já desenvolvia sobre o assunto. Ao longo do ano, são trabalhadas leituras e desenvolvidos trabalhos artísticos relacionados com a temática. O objetivo é mostrar a importância da cultura afro-brasileira e indígena aos 274 alunos que estudam no local.

Arthur Miguel de Souza, 6 anos, aluno do 2º período, valoriza o trabalho feito por ele durante atividade escolar: “Me achei lindo”

Uma das atividades da escola foi fazer com que as crianças pintassem autorretratos, para estimular o trabalho artístico e trabalhar pontos como diversidade e autoestima. Arthur Miguel de Souza, 6 anos, aluno do 2º período, comenta orgulhoso o autorretrato que fez. “Eu me achei muito lindo. Fiz um ótimo trabalho. Mostrei minha cor e meu cabelo”, afirma.

A colega de turma de Arthur, Isadora Sales, 5 anos, diz que amou fazer a pintura e que a professora sempre comenta na sala de aula que é importante respeitar todas as pessoas, independentemente de qualquer diferença. Ela também destaca que não gosta quando vê alguma situação de discriminação.

Todas as unidades que participam do Taguatinga Plural recebem pintura de muros ou painéis escolares sobre a temática para o fortalecimento da diversidade e representatividade negra e indígena. Todas são realizadas pelo Canal Fique Fera, com os muralistas Tayná Carvalho e César Augusto. “Nossa ideia é sempre mostrar a pluralidade e a diversidade nas nossas pinturas educativas”, comenta César.

O painel que começou a ser pintado no CEI 1 de Taguatinga, na última quarta (16), foi ainda mais especial para Tayná porque, além de ser o primeiro, foi na escola em que ela estudou por vários anos na infância. “Foi a cereja do bolo poder fazer essa pintura na escola em que vivi vários momentos da minha infância e que contribuiu na minha formação”, frisa a muralista.

Além das atividades na sala de aula, o projeto Taguatinga Plural também desenvolveu um e-book sobre educação antirracista. Nele, outras atividades feitas nas escolas da regional são apresentadas.

Combate ao racismo estrutural

No Centro de Ensino Fundamental (CEF) 801 do Recanto das Emas, o projeto Agô – Minha Ancestralidade Vai Passar também destaca a importância das discussões em torno da consciência negra. As atividades são desenvolvidas com estudantes dos 11 aos 15 anos como parte do projeto pedagógico da escola, que foi construído a partir da contribuição do corpo docente da unidade. O tema central é o racismo estrutural.

O assunto é abordado com frequência em sala de aula com debates a partir de fatos que acontecem no país, propondo uma reflexão sobre os acontecimentos que envolvem o tema. O lado lúdico também é desenvolvido por meio das artes, como ferramenta para o empoderamento e reconhecimento da cultura afro-ameríndia.

A Horta Ancestral é um braço do projeto Agô em que são aplicadas práticas e tecnologias de plantio que os africanos trouxeram durante o processo de colonização do Brasil.

“Este projeto tem sido o carro chefe da pedagogia de 2022 do CEF 801 e concluímos que é um assunto que infelizmente não se esgota devido ao processo colonialista ao qual passamos ao longo de séculos. Só assim, com ações efetivas na educação, podemos preparar os alunos para serem cidadãos mais esclarecidos. É urgente que as escolas proponham projetos desta envergadura para o amadurecimento da sociedade”, afirma Ricardo César, coordenador pedagógico do projeto.

 

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