Doentes renais crônicos devem procurar preencher as 700 vagas disponíveis na rede pública de saúde do Distrito Federal para serem tratados por meio de Diálise Peritoneal (DP), terapia eficaz, mas ainda pouco conhecida entre pacientes e profissionais de saúde. Apelos nesse sentido foram reiterados na terça-feira (4) por palestrantes e participantes do workshop Por que não indicar Diálise Peritoneal?, promovido pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF).
O objetivo do evento foi aprimorar conhecimentos teóricos e práticos dessa terapia. A perda de especialistas nessa alternativa está entre as principais preocupações dos organizadores do debate. Estima-se hoje que cerca de 30 milhões de brasileiros tenham algum tipo de problema renal, segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN).
Especialistas defenderam a criação de uma nova lei nacional para aumentar a procura e oferta dessa alternativa por representar qualidade de vida aos pacientes e a redução das filas por hemodiálise, cujo serviço é bem mais desgastante e oneroso para o paciente e para o poder público.
Na ocasião, também foi anunciada a primeira Frente Parlamentar da Nefrologia do Congresso Nacional. Nefrologia é a especialidade médica dedicada ao diagnóstico e tratamento clínico das doenças do sistema urinário, principalmente relacionadas ao rim.
Onde estão as vagas?
Ao participar do workshop, a médica Cristhiane Gico fez uma defesa empolgada da Diálise Peritoneal como profissional de saúde e chefe de Nefrologia e Transplante do Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF). A instituição é administrada pelo IgesDF, juntamente com o Hospital Regional de Santa Maria e 13 unidades de pronto atendimento, as UPAs.
“A primeira opção aos pacientes renais crônicos precisa ser Diálise Peritoneal, tanto para benefício do próprio paciente como para sustentabilidade financeira do SUS [Sistema Único de Saúde]”, assinalou. Além da DP, há mais duas terapias que substituem a função do rim: transplante e hemodiálise.
De acordo com a gestora, das 200 vagas das DPs ofertadas no HBDF, 127 ainda estão ociosas. A profissional destacou que há outras 500 vagas nas unidades vinculadas à Secretaria de Saúde (SES).
Cristhiane explicou quais doentes devem procurar essas vagas: “Pacientes que estão em ambulatório para renal crônico se preparando para iniciar diálise ou já estão realizando hemodiálise podem solicitar avaliação do seu médico e da enfermaria a fim de ser regulado para Diálise Peritoneal”.
A médica assinalou que todos os serviços de nefrologia do DF têm vagas de Diálise Peritoneal ociosas para oferecer e também há vagas em unidades credenciadas pelo SUS para realizar essa terapia.
DP como política pública
Na ocasião, houve manifestações a favor de uma nova legislação nacional para tornar obrigatória, na rede pública de saúde, a sensibilização sobre o uso da terapia e a abertura de mais serviços de Diálise Peritoneal planejada e não planejada.
A recém-lançada Frente Parlamentar da Nefrologia deverá ter como prioridade a disseminação da DP, conforme avalia o nefrologista Mario Ernesto Rodrigues, 72 anos, ex-chefe de Nefrologia do HBDF, um dos nove palestrantes do evento. “Já há vários países que estão bem a frente colocando essa terapia como política pública”, destacou Rodrigues, que deixou um legado no setor de Nefrologia a favor da DP.
Engajamento
“Quem trabalha com Diálise Peritoneal transforma a alma, porque presencia vida e alegria de viver dos pacientes renais“, enfatizou a atual chefe de Nefrologia, Cristhiane Gico, ao elogiar o engajamento profissional e afetivo pela causa assumida por médicos, residentes, enfermeiros e técnicos em enfermagem, além de pacientes, para colocar essa terapia como política pública.
“É necessário que todos nós estejamos engajados em defesa da DP para se tornar uma política pública que melhore o atendimento“, afirmou. Cristhiane Gico projetou que sem isso “nunca haverá máquinas de hemodiálise suficientes, e milhares de pacientes morrerão nas filas”. Ainda assim, a médica do HBDF citou que novos profissionais surgem “abraçando a terapia”, a exemplo da médica Caroline Pimenta, que abriu o debate como coordenadora da DP no Hospital de Base.
Os participantes lotaram o auditório do 12º andar do HBDF vestidos com camisas referentes à campanha a favor da ampliação do atendimento desses casos graves pela DP. A bandeira deles é estimular a alternativa às desgastantes sessões em que os pacientes são submetidos em aparelhos de hemodiálise.
Para a chefe de Nefrologia, o mais grave é que essas filas de hemodiálise vão continuar a aumentar, porque as pessoas não mudam seus hábitos e continuam exagerando no consumo de alimentos super processados e tomando remédios que contribuem para o aparecimento das doenças renais.
Vida normal
Ao palestrar no evento, a paciente Guaciane Nunes de Oliveira prestou seu depoimento a favor do uso de equipamentos e suporte para uso da DP. Desde os 12 anos de idade, ela se trata no Hospital de Base como doente renal.
Bastante animada e sorridente, a paciente fez uma demonstração sobre como usar a DP. “Casei, tive dois filhos. Faço a DP em casa e onde quer que esteja, sem precisar passar horas em um aparelho de hemodiálise. Sem agulhadas. Levo uma vida normal e ainda danço funk”, comemorou.