Publicada em 29 de agosto de 2024
Desde a criação do IGES-DF, no já distante ano de 2018, o Sindicato dos Enfermeiros do DF e sua gestão se posicionavam claramente contra sua existência, e alertavam que o instituto se tornaria uma porta aberta para a corrupção e o desperdício de verbas públicas na saúde do DF. Passados seis anos, o aviso não só se cumpriu como se tornou rotina.
Desde ontem (28), o IGES está novamente nas páginas policiais – agora por conta de irregularidades nos contratos de fornecimento da alimentação nas unidades administradas pelo instituto. Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), os empresários pagaram propina para que os servidores públicos renovassem o contrato até julho de 2025 com um valor ainda mais alto que o anterior, ultrapassando mais de R$ 300 milhões. O valor é cerca de um terço dos R$ 1 bilhão cedidos pelo GDF ao instituto somente na última LDO, aprovada em maio deste ano.
São recursos desperdiçados e que poderiam estar sendo aplicados na valorização salarial dos enfermeiros que foram às ruas ontem (28) lutar pela Isonomia, em frente à sede da Secretaria de Saúde. E por coincidência, o ato ocorreu no mesmo instante em que a polícia fazia buscas na sede do instituto – localizado no mesmo edifício.
O mais assustador disso tudo, é que em meio a tantos escândalos de corrupção o Instituto segue em expansão. Um dia antes, em 27 de agosto, o IGES foi “presenteado” pela Câmara Legislativa com a gestão definitiva do Hospital do Sol (HSol), em mais um movimento do atual governo rumo à entrega total do serviço público por cifras milionárias a amigos, empresários e apadrinhados políticos.
É no mínimo questionável que o IGES receba tantos repasses enquanto os servidores da Secretaria de Saúde do DF, especialmente aqueles que atuam na Atenção Básica, sofrem com a falta de infraestrutura, com espaço físico inadequado para a realização de atividades, falta de insumos, um insuficiente sistema informatizado de dados, falta de equipamentos e falta de segurança para os servidores.
E uma das consequências mais cruéis dessa terceirização é a fragmentação da rede assistencial, que já está comprometendo o sistema de referência e contrarreferência no funcionamento das UPAs e UBSs. Não são poucos os casos de pacientes que relatam terem sido classificados com bandeira amarela e até mesmo laranja, e tiveram o atendimento direcionado para uma unidade básica – que não deve receber atendimentos de urgência e emergência.
Em seis anos de existência, e tendo consumido bilhões em recursos públicos, o IGES prova novamente que não é capaz de entregar um serviço de excelência para a população. Por isso, a luta contra a terceirização e os danos causados pela mesma são pautas que precisam voltar ao centro do debate político com urgência.