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Acolher o luto dos familiares é fundamental na captação de órgão para transplantes

O Brasil é o 2º país em transplante de órgãos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e tem o maior programa público, sob coordenação do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Curso ministrado pela enfermeira Raianne Monteiro, coordenadora da Central de Transplantes Macrorregional Caruaru/PE, abordou o papel da Enfermagem na doação de órgãos e as principais técnicas e protocolos para a captação.

A Enfermagem está em todas as fases do processo de doação de órgãos, desde a identificação de potenciais doadores, ao acompanhamento das etapas técnicas e emocionais envolvidas na doação, da hemodinâmica à escuta das famílias. Cerca de 70% das más notícias – que alteram, de forma drástica e negativa a vida de pacientes e seus familiares – são dadas por profissionais de Enfermagem, segundo Raianne.

Entender as fases do luto é fundamental para esse processo. “O luto inclui as fases de negação, raiva, barganha e depressão, até chegar à aceitação, quando aprendemos a conviver com o que aconteceu. Fazemos essa separação didática para entender melhor o processo, mas as fases não acontecem necessariamente nessa ordem e podem ser sobrepor”, explica.

A morte encefálica subverte muito do que se entende por morte. São, em geral, pacientes saudáveis, vítimas de trauma. O coração ainda está batendo. Na fase de negação, é preciso escutar. “Não é o momento de falar. O familiar ainda está processando o que aconteceu, não acredita”, afirma a enfermeira.

SPIKES – “A gente precisa se colocar no lugar do familiar e do paciente. Empatia é a palavra-chave. Mas é preciso também manter o equilíbrio para seguir técnicas”, explicou a enfermeira, ao apresentar o protocolo SPIKES. Em seis etapas, o protocolo prepara o paciente para más notícias e também é usado no acolhimento a famílias de potenciais doadores.

A primeira etapa (S – setting up) é a preparação do profissional. Antes de conversar com os familiares, deve ler o prontuário, conversar com a equipe, buscar privacidade. É o momento de se conectar, seja por contato visual ou toque. É importante ajustar o tempo do diálogo, equilibrando objetividade e paciência na escuta.

A segunda etapa (P – perception) é o entendimento do que o paciente, ou a família, sabe sobre a situação e quais as suas expectativas. “É o momento de fazer perguntas abertas. Você sabe por que fizemos determinado exame?”, detalha. Conforme as respostas, o profissional vai conduzindo as explicações.

A terceira etapa (I – invitation) é avaliar o quanto o familiar deseja ou não saber sobre a doença e o prognóstico. “Nem sempre aquele familiar está pronto para ter certas informações e tomar decisões.”, afirma.

A quarta etapa (K – knowledge) é focada na partilha de conhecimento e informações. “É importante ser clara, objetiva, evitando termos técnicos. Mas também devemos evitar a dureza excessiva”, avalia. É o momento de verificar se o familiar entendeu o que está sendo dito, falando aos poucos e dando espaço para perguntas.

A quinta etapa (E – emotion) se refere a reações, às respostas afetivas. É preciso preparar-se para possíveis reações negativas, como choro, raiva e negação. “A família não esquecerá como foi tratada nesse momento tão difícil”, pondera.

Na sexta e última etapa (S -estratégia), caso o familiar esteja preparado, é o momento de abordar a possível doação de órgãos.

Fonte: Ascom/Cofen

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