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Segunda-feira, Dezembro 1, 2025
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Maior evento da Saúde Coletiva declara apoio à Reforma Obstétrica

Abertura do 14º Abrascão no Centro Internacional de Convenções de Brasília (Foto: Abrasco)

A luta pela Reforma Obstétrica recebeu apoio dos participantes 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão). Congressistas do 14º Abrascão — que reúne pesquisadores, sanitaristas, gestores, profissionais de Saúde e movimentos sociais — declararam apoio à luta das mulheres e da Enfermagem.

Destacando as altas taxas de cesarianas, prematuridade e de mortalidade materno-infantil, o documento, aberto a adesão dos congressistas, pede a criação de grupo de trabalho na Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e de um Grupo de Trabalho Interministerial, coordenado pelo Ministério da Saúde, para a elaboração e implementação da Reforma Obstétrica no Brasil, com efetiva participação da sociedade civil.  O 14º Abrascão, realizado em Brasília pela Abrasco e Fiocruz, busca articular produção científica, formulação de políticas e mobilização social.

“O dimensionamento defendido na moção é o ideal, de 1:1, ou seja, uma enfermeira obstétrica ou obstetriz para cada paturiente. Isso poderia revolucionar a assistência ao parto. Com uma parturiente, a enfermeira obstétrica pode realizar todo monitoramento e acompanhamento humanizado. A gente deve evitar intervir, mas o parto precisa de monitoramento constante”, explica enfermeira obstétrica Tatiana Melo, chefe do Departamento de Gestão do Exercício Profissional (DGEP/Cofen).

O investimento em profissionais de Enfermagem obstétrica tem o potencial de salvar 4,3 milhões de vidas por ano até 2035, segundo estimativa do Relatório Mundial da Obstetrícia do Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA/ONU). “O movimento da Reforma Obstétrica surge pela dificuldade de baixar as taxas de mortalidade materna, neste modelo de assistência médico-centrada, marcado pelo intervencionismo. A Reforma Obstétrica propõe uma assistência centrada na fisiologia do parto, nas boas práticas científicas e no trabalho multiprofissional”, explica Tatiana.

Parto realizado no CPN do hospital Sofia Feldman, pelo SUS

O manifesto Reforma Obstétrica no Brasil Já, lançado em abril, reflete um amplo consenso sobre a necessidade de mudanças no modelo assistencial. A proposta foi elaborada com entidades comprometidas com a vida das mulheres, incluindo a Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos,  e Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (REHUNA), com apoio de 27 instituições, entre elas o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), a Associação Brasileira de Enfermagem (Aben) e a Associação Brasileira de Enfermagem Obstétrica (Abenfo).

“Não é apenas uma proposta técnica. É um compromisso político. É dizer: nenhuma mulher deve morrer ao dar à luz. É enfrentar o racismo estrutural que atravessa a saúde pública. É garantir que as mulheres negras, indígenas, periféricas e do campo não sejam invisibilizadas no momento mais delicado de suas vidas”, afirma da deputada federal e enfermeira obstétrica Ana Paula Lima (SC), que apresentou a proposta ao ministro.

 

Moção de apoio à Reforma Obstétrica – Proposta por congressistas do 14º Abrascão

Considerando no Brasil:

•    A crescente e elevada taxa de cesariana (60% em 2024);
•    A crescente e elevada taxa de prematuridade (12,3% em 2024);
•    A Razão de Mortalidade Materna e o Coeficiente de Mortalidade Infantil e Neonatal elevados e estagnados;
•    A maior vulnerabilização de meninas, adolescentes, das mulheres indígenas e negras,
     outras pessoas que gestam, pessoas em situação de rua, privadas de liberdade e outras;
•    Os impactos da crise climática e da migração na saúde sexual e reprodutiva, materna, fetal e infantil
•    A grave situação da pobreza menstrual no Brasil como violação de direitos sexuais e reprodutivos;
•    A fragilidade de políticas de planejamento reprodutivo, contracepção e aborto seguro;
•    Os desafios para a qualificação da atenção pré-natal e puerpério;
•    A persistência de um modelo de atenção ao parto e nascimento obsoleto, médico-centrado,
     hospitalocêntrico e hipermedicalizado;
•    Os efeitos iatrogênicos imediatos, de médio e longo prazo desse modelo sobre a saúde das mulheres,
     das crianças e na vida adulta;
•    A insuficiência de ações de comunicação, educação e mobilização social sobre o parto normal como
     forma de promoção e proteção da saúde materna e infantil;

Considerando que a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) é a entidade que reúne a maior capacidade de aglutinação social e enfrentamento de problemas de relevância em saúde pública no país;

Considerando que a Reforma Obstétrica no Brasil é urgente e fundamental para o enfrentamento da mortalidade materna, fetal e infantil evitáveis e para a eliminação da violência e do racismo obstétrico e neonatal – temas essenciais e prioritários para a saúde pública brasileira;

Nós, participantes do 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva da ABRASCO vimos manifestar nossa defesa e apoio à proposta da Reforma Obstétrica Brasileira, que tem como objetivos:
– A implementação de um modelo de atenção obstétrica que valorize a saúde, a dignidade, o protagonismo e os direitos das mulheres, pessoas que gestam e das crianças;

– A qualificação da atenção ao parto, ao aborto legal e ao nascimento no Brasil a partir das evidências científicas e recomendações de organismos internacionais como a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) e a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), além das diretrizes nacionais de assistência ao parto e da cirurgia cesariana e tendo como base os direitos humanos de mulheres e crianças e os direitos sexuais e reprodutivos;

– O fortalecimento da Rede Alyne com ênfase na integração e continuidade entre a assistência pré-natal, o cuidado ao parto e pós-parto e ao neonato;

– O fortalecimento da atuação da enfermagem obstétrica (EO) e obstetrizes na atenção ao parto e ao nascimento de risco habitual para a promoção da fisiologia,  assegurando o cuidado 1:1 ou seja, uma EO/obstetriz para cada parturiente, além da assistência ao aborto legal e no planejamento reprodutivo. O cuidado deve ser realizado em equipe interprofissional, com participação de doulas e integrado à rede de atenção à saúde;

– O investimento na formação e suficiência quantitativa (estimativa de necessidade de cerca de 130 mil enfermeiras obstetras e obstetrizes, quando o cenário atual é de 13.000), com planejamento de condições que assegurem sua inserção e atuação autônoma nos serviços de saúde;

A participação das Doulas no apoio às parturientes como evidência científica e direito;

A promoção do parto normal digno e respeitoso para a redução das taxas de cesarianas no país, lembrando que o Brasil ocupa a vergonhosa marca de campeão mundial de nascimentos pela via cirúrgica;

A implementação da legislação disponível no país para o funcionamento de maternidades segundo as normas da ANVISA e de segurança da paciente;

A efetiva e inadiável redução da morbimortalidade materna e neonatal.    

Reivindicamos o apoio institucional da ABRASCO para:

– Estruturar grupo de trabalho no âmbito da ABRASCO para elaborar e desenvolver a proposta da Reforma Obstétrica no Brasil, incluindo o fomento à pesquisa na área

– Articular a criação de um Grupo de Trabalho Interministerial coordenado pelo Ministério da Saúde para a elaboração, implantação e implementação da Reforma Obstétrica no Brasil, com efetiva participação da sociedade civil.

Fonte: Ascom/Cofen – Clara Fagundes

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