23.5 C
Brasília
Quinta-feira, Novembro 21, 2024
InícioBRASILPacientes usuários da cannabis medicinal realizam protesto, na sexta (21), em frente...

Pacientes usuários da cannabis medicinal realizam protesto, na sexta (21), em frente ao Conselho Federal de Medicina

“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação” (Art. 196, Constituição Federal de 1988)

Por Kleber Karpov

Pacientes das redes pública e privada de saúde, usuários da cannabis medicinal, devem se reunir, as 9 da manhã, de sexta-feira (21/Out), em protesto em frente ao Conselho Federal de Medicina (CFM). O ato ocorrem em protesto contra a Resolução do CFM nº 2.324/2022, que impõe restrições à prescrição médica de medicamentos a base de Cannabis por médicos brasileiros. Para usuários, medida coloca em risco milhares de tratamentos em curso.

Os pacientes da Cannabis Medicinal foram pegos de surpresa com o texto aprovado pela Sessão Plenária do CFM, no dia 11 de outubro, que limita a prescrição de canabidiol (CBD) – uma das moléculas presentes na Cannabis – exclusivamente para o tratamento de epilepsias na infância e adolescência refratárias às terapias convencionais na Síndrome de Dravet e Lennox-Gastaut e no Complexo de Esclerose Tuberosa.

Segundo a Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide, as supostas “evidências científicas” listadas pelo CFM na Resolução se restringiram a estudos ultrapassados (publicados oito anos atrás) e não atualizou os achados da academia presentes, por exemplo, na PubMed, uma das maiores bases de dados da biomedicina do mundo. Atualmente, há quase 30 mil pesquisas sobre o uso medicinal da Cannabis só na PubMed, sem mencionar outras bases de dados científicos. No site é possível verificar que entre 2018 e 2022, foram produzidos cerca de 10 mil artigos científicos sobre o uso medicinal da Cannabis. Mas ao que tudo indica, as pesquisas que embasam a regulamentação da Cannabis em mais de 50 países ainda são desconhecidas pelos conselheiros do CFM.

É relevante destacar que, de acordo com a Anvisa, mais de 100 mil pacientes fazem uso do extrato da Cannabis importado do exterior com prescrição médica. Os dados da Agência Reguladora revelam ainda que o número de pacientes que importa produtos à base de Cannabis aumentou 15 vezes nos últimos cinco anos. E chegará a 200 mil até maio de 2023. Isso sem contabilizar a quantidade de paciente que é atendida por meio de associações de pacientes. Só a Abrace Esperança – Associação de Pacientes da Cannabis na Paraíba (com autorização da justiça para cultivo da Cannabis em solo brasileiro) – tem mais de 30 mil pacientes que usam o óleo completo da planta para tratar mais de 30 diferentes patologias.

Como fica a situação desses pacientes?

Qual é a resposta que o CFM dará aos esses pacientes que fazem o uso medicinal da planta e têm tido respostas positivas no tratamento de patologias diversas àquelas listadas na Resolução CFM nº 2.324/2022?

Muita gente não sabe, mas uma lei do Distrito Federal garante aos pacientes que sofrem com epilepsia refratária o fornecimento de canabidiol (CBD) de forma gratuita por meio das Farmácias de Alto Custo, através da Secretaria de Saúde do DF.

A Lei 5.625/2016, de autoria do pastor evangélico – o deputado distrital Rodrigo Delmasso (Rep/DF) inclui o canabidiol na lista de medicamentos distribuídos gratuitamente pela rede pública de saúde do DF no Programa de Prevenção à Epilepsia e Assistência Integral às pessoas com Epilepsia no Distrito Federal.

A redação, sancionada seis anos atrás, está em vigor e não restringe o fornecimento do medicamento à casos específicos de epilepsia como determina a Resolução do CFM. Segundo levantamento feito pela Informacann – por meio da Lei de Acesso à Informação Pública (LAI) – hoje apenas 17 pessoas com epilepsia recebem CBD em todo Distrito Federal. O valor total do contrato vigente é de R$ 853.039,01.

Cada unidade do medicamento custou por pouco mais de R$ 1.850. O valor praticado pela farmacêutica Prati Donaduzzi – que venceu a licitação – é quase três vezes maior do que o preço do miligrama do CBD importando, segundo a Dra. Marianna Laíze dos Santos, médica com Pós-Graduação em Cannabis Medicinal. “Os produtos importados custam, em média, R$ 700 reais o frasco de 30ml com 5000mg de CBD. Fazendo as contas, o miligrama de CBD da Prati, na formulação de 200mg/ml, custa cerca de 0,40 centavos. Já o importado custa 0,15 centavos o miligrama de CBD”, detalha a médica.

Além do alto custo do medicamento adquirido pelo governo do DF, a especialista ainda alerta para um agravante: “O canabidiol da Prati Donaduzzi é isolado, ou seja, não possui os demais fitocanabinoides da planta que atuam no chamado efeito comitiva. Com a formulação isolada, o paciente precisa usar uma quantidade ainda maior de medicação. Hoje, uma série de estudos comprovam que a atuação conjunta de todos os canabinoides é mais eficiente do que a molécula isolada”, explica a especialista.

Outro ponto que merece atenção: a Anvisa já autorizou a venda de 20 produtos à base de Cannabis (e não apenas canabidiol) nas farmácias. A Resolução do CFM descredita essas formulações que possuem autorização da Agência Reguladora e já estão vendo vendidas aos pacientes? O Mevatyl, por exemplo, já está nas drogarias desde 2015. Quem faz uso desse medicamento será obrigado a desistir do tratamento?

No caso do tratamento precoce da Covid-19 com cloroquina, o CFM defendeu a autonomia médica. Como fica a interpretação, agora, do VIII Princípio Fundamental do Código de Ética Médica?

“O médico não pode, em nenhuma circunstância ou sob nenhum pretexto, renunciar à sua liberdade profissional, nem permitir quaisquer restrições ou imposições que possam prejudicar a eficiência e a correção de seu trabalho.”

Não aceitaremos que tentem proibir o nosso medicamento para favorecer unicamente a indústria do CBD isolado e sintético no Brasil. O CFM tem o dever moral de respeitar a autonomia médica e o processo decisório – que envolve paciente e médico – na escolha do melhor tratamento.

De acordo com especialistas, a Resolução do CFM fere a Constituição, o Código de Ética Médica, além de trazer insegurança jurídica para o paciente e o profissional da saúde.

Esse protesto é só o começo! Iremos recorrer à todas as instâncias do judiciário para derrubar uma Resolução que demostrar ter sido comprada pela indústria do CBD isolado no Brasil.

Somos pacientes e estamos amparados pelo direito à saúde garantido pela Constituição Federal!

Dados

  • Há mais de 29.879 pesquisas sobre Cannabis na PubMed (uma das maiores bases de dados sobre biomedicina)
  • Há no Brasil mais de 100 mil pacientes da Cannabis
    medicinal (Anvisa)
  • 13 milhões de brasileiros poderiam se beneficiar do tratamento à base de Cannabis (fonte Anvisa)
  • Mais de 66 mil medicamentos à base de Cannabis foram importados em 2021 (fonte: Anvisa)
  • 50 nações já regulamentaram o uso medicinal e industrial da Cannabis/Cânhamo.
  • Comitê Olímpico desclassificou o canabidiol (CBD) como doping em 2021.
  • 78% dos brasileiros são favoráveis à Cannabis medicinal (fonte: EXAME/IDEIA)

Abaixo-Assinado

Em um abaixo-assinado publicado no site Charge.org, com mais de 80 mil assinaturas, a Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis (SBEC) questionou, a nova diretriz do CFM de permitir apenas o uso exclusivo do “canabidiol para o tratamento de epilepsias da criança e do adolescente refratárias às terapias convencionais na Síndrome de Dravet e Lennox-Gastaut e no Complexo de Esclerose Tuberosa” e vedar ao médico “a prescrição de outros derivados que não o canabidiol”, inclusive para “indicação terapêutica diversa da prevista nesta Resolução” o Conselho fere diversos princípios fundamentais do código de ética médica.

Dentre as agressões, por parte do CFM, a competência do médico de aprimorar conhecimento e usar o progresso do conhecimento científico para beneficiar os pacientes. O ainda o até mesmo o principio constitucional do direito a saúde.

Clique nesse link para abrir o abaixo-assinado

Serviço

Manifestação de pacientes e sociedade contra resolução do CFM

Data: 21/ de outubro, sexta-feira

Hora: 9h

Local: Em frente ao Conselho Federal de Medicina

VEJA TAMBÉM
- Advertisment -

RECENTES